Mulher e Arma com Guitarra Espanhola
de Dennis Mcshade
editor: Assírio & Alvim
Dez mil dólares. É esta a munição e o disparo de Mulher e Arma Com Guitarra Espanhola, o último livro da trilogia Dennis McShade, pseudónimo de Dinis Machado, escrita entre 1967 e 1968, agora reeditada pela Assírio & Alvim. À maneira do humor machadino, são dez mil dólares para o fim de uma saga escrita num ano por vinte contos de réis.
E se o leitor, que leu os anteriores Mão Direita do Diabo e Requiem para Dom Quixote, se prepara para mais um tomo irrepetível, não divisa, todavia, a surpresa da nova leitura, nem que acatará com um sorriso a sentença maynardiana: «o homem que se surpreende não é adulto». Tanto mais que o espanto terá novo episódio no perturbador Blackpot, um inédito a editar no fim do ano.
Por causa de dez mil dólares, o escrupuloso assassino profissional Peter Maynard embaraça-se numa organização nazi americana; para os descobrir, recebe o Contrato; devido a eles, desenvolve novas estratégias de sobrevivência; na peugada deles, confronta-se com a sua consciência; motivada por eles, a palavra detém-se na realidade, num engajamento social, filosófico, político e até lírico: «as palavras servem para muita coisa. Com elas, podem encher-se sacos de silêncio.».
Tudo isto é muito estranho para um policial? É. Mas é precisamente devido a esta genial estranheza que estes livros de bolso, a disfarçar a fina literatura, não envelhecem.
Dinis Machado apostou transformar o policial negro e «a transformação operou-se», como o próprio escrevia na Nota do Editor: «o género policial, que se bastava com uma só face da realidade, quantas vezes apenas aparente, tende a desdobrar-se em vários planos, procurando pistas de vida em todas as direcções que a vida tem».
Se toda a realidade está na mente do observador, em Peter Maynard, o intelecto é a vigília. De forma assombrosamente natural, surge uma estética literária a evidenciar a autonomia de Dinis Machado face às regras dos policiais que, aliada à autenticidade na sua visão da natureza humana e das mutações do mundo legitimam o valor artístico da obra e conferem-lhe o carácter vanguardista, que se mantém, quarenta anos depois.
Como o título deixa lobrigar, neste Mulher e Arma Com Guitarra Espanhola impera o feminino: Peter Maynard, o «mão direita do diabo» que usa pistola e silenciador, que tem um negócio privado e a vaidade de escolher os contratos que faz, recebe o contrato «Nora», mulher de um malandro, «homem de uma baixeza quase integral» e um fatalismo dostoievskiano, que contrata um assassino profissional para a eliminar, o qual desaparece com o adiantamento de dez mil dólares sem executar o trabalho.
Livro como novo.
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6,00 €Preço
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